ATA DA QUARTA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 07.04.1998.

 


Aos sete dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e trinta e um minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o décimo aniversário do Programa "Câmera 2", da Televisão Guaíba - Canal 2, nos termos do Requerimento nº 04/98 (Processo nº 66/98), de autoria da Vereadora Maria do Rosário. Compuseram a Mesa: o Vereador Luiz Braz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor José Fortunati, Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Jornalista Clóvis Duarte, Diretor do Programa "Câmera 2"; a Senhora Helena Ribeiro Soares, Diretora da Televisão Guaíba; o Senhor Ercy Torma, Presidente da Associação Rio-grandense de Imprensa – ARI; o Senhor Wremyr Scliar, representante do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul; o Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; o Capitão Marco Antônio Agostini, representante do Comando Geral da Brigada Militar; a Senhora Izabel Ibias, representante da Secretaria Estadual de Educação; o Vereador Juarez Pinheiro, 1º Secretário da Casa.  Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças do Senhor Alceu Collares, ex-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; da Senhora Neuza Canabarro, ex-Secretária Estadual da Educação; do Senhor Gilberto Lessa, Diretor da Rede Visão de Rádio; do Senhor Henrique Fernando de Oliveira, representante da AGAFARMA - Associação Gaúcha de Farmácias e Drogarias Independentes; do Senhor Alexandre Jamante, Diretor Comercial da TV Pampa; do Senhor José Elias Flores, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; do Senhor Carlos Daudt, representante da Avipal Agropecuária; da Senhora Ledice Souza, representante da Associação dos Transportadores de Passageiros; do Senhor Sílvio Teitelbaum; da Senhora Magda Beatriz; da Senhora Suzana Velinho Englert; do Senhor Alejandro Malo e do Senhor Luiz Fonseca. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem à execução do Hino Nacional, e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Maria do Rosário, como proponente da presente homenagem, saudou o transcurso do décimo aniversário do Programa "Câmera 2", salientando a importância do acompanhamento jornalístico que este Programa sempre dispensou aos grandes acontecimentos do País, especialmente em relação às mudanças ocorridas neste período no cenário político brasileiro. O Vereador Henrique Fontana, em nome das Bancadas do PT e do PPS, destacou as características de abertura e independência que sempre nortearam a elaboração e a veiculação do Programa "Câmera 2", declarando que as mesmas permitiram a troca de idéias divergentes, representativas dos antagonismos característicos da sociedade moderna.  O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, referiu-se ao pioneirismo e ao estilo jornalístico peculiar adotado pelo Programa "Câmera 2", afirmando que este programa já integra o patrimônio cultural da sociedade porto-alegrense. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, parabenizou o Programa "Câmera 2" pelos seus dez anos de existência, comentando a qualidade e o sucesso que marcam sua trajetória, construída com um trabalho constante em busca da verdade dos fatos. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, discorreu sobre as inovações técnicas e de estilo adotadas pelo Programa "Câmera 2", as quais o diferenciam de outros programas do gênero e garantem diversidade na abordagem dos assuntos nele tratados. O Vereador Fernando Záchia, em nome da Bancada do PMDB, prestou sua homenagem ao Programa "Câmera 2", salientando que o sucesso deste programa deve-se, fundamentalmente, à ênfase dada à divulgação dos valores culturais de Porto Alegre e à discussão dos problemas locais da Cidade. O Vereador Hélio Corbellini, em nome da Bancada do PSB, comentando a influência da mídia televisiva na sociedade moderna, manifestou sua alegria em poder participar da presente homenagem, afirmando que o Programa "Câmera 2" permite o tratamento imparcial dos temas nele abordados. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, homenageou os dez anos do Programa "Câmera 2", ressaltando aspectos qualitativos deste programa que, ao longo de sua existência, aliou criatividade técnica e seriedade na divulgação e análise das notícias divulgadas. A Vereadora Sônia Santos, em nome da Bancada do PTB, congratulou-se com os profissionais responsáveis pela realização do Programa "Câmera 2", analisando as influências trazidas por este programa para a vida de seus telespectadores, ao viabilizar a difusão da informação de maneira clara e objetiva. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Clóvis Duarte, que, em nome da equipe responsável pelo Programa "Câmera 2", agradeceu a homenagem prestada por este Legislativo, discorrendo acerca da criação e desenvolvimento do Programa "Câmera 2" e registrando nomes ligados aos meios de comunicação e que foram fundamentais para viabilizar o sucesso alcançado por este  programa. A seguir, o Senhor Presidente informou que, após o encerramento da presente Sessão Solene, seria servido um coquetel no Salão Nobre do Plenarinho e convidou a todos para, em pé, assistirem à execução do Hino Rio-Grandense. Em prosseguimento, procedeu-se à exibição de vídeo clipe alusivo aos dez anos do Programa "Câmera 2". Às dezenove horas e vinte e dois minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convidando a todos para participarem da Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Luiz Braz e secretariados pelo Vereador Juarez Pinheiro. Do que eu, Juarez Pinheiro, 1º Secretário, determinei  fosse  lavrada  a  presente  Ata  que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Luiz Braz): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o 10º Aniversário do Programa “Câmera 2”, da TV Guaíba.

Para compor a Mesa, convidamos o Representante do Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Sr. José Fortunati - Vice-Prefeito; o Diretor do Programa “Câmera 2”, Sr. Clóvis Duarte; a Diretora da Televisão Guaíba, Sra. Helena Ribeiro Soares; o Presidente da Associação Rio-Grandense de Imprensa, Sr. Ercy Torma; o Representante do Tribunal de Contas do Estado, Dr. Wremyr Scliar; o Representante do Comando Militar do Sul, Coronel Irani Siqueira; o Representante do Comando Geral da Brigada Militar, Capitão Marco Antônio Agostini; a Representante da Secretaria Estadual de Educação , Sra. Isabel Ibias.

Convidamos a todos para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

Registramos a presença do ex-Prefeito e ex-Governador, um grande Amigo desta Casa, o Dr. Alceu Collares. É um prazer muito grande tê-lo aqui, juntamente com sua esposa, a Sra. Neuza, ex-Secretária do Município e também do Estado. Também presentes os Vereadores Adeli Sell, Isaac Ainhorn, Henrique Fontana, Guilherme Barbosa, Antônio Losada, Fernando Záchia, Gilberto Batista,  Elói Guimarães, Paulo Brum, Cláudio Sebenelo, João Carlos Nedel, Reginaldo Pujol e as Vereadoras Anamaria Negroni, Sônia Santos e Maria do Rosário, proponente desta solenidade.

A Vera. Maria do Rosário está com a palavra, como proponente da homenagem.

 

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO:  Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre Vereador Luiz Braz; Sr. Vice-Prefeito de Porto Alegre José Fortunati; Sr. Diretor do Programa “Câmera 2”, e apresentador deste programa, Clóvis Duarte, hoje homenageado; Sra. Diretora da Televisão Guaíba, do Sistema Correio do Povo - Guaíba, Helena Ribeiro Soares; Sr. Presidente da Associação Rio-grandense de Imprensa, Ercy Torma; Representante do Tribunal de Contas do Estado Dr. Wremyr Scliar; Representante do Comando Militar do Sul Coronel Irani Siqueira; Representante do Comando-Geral da Brigada Militar Capitão Marco Antônio Agostini e Representante da Secretaria Estadual de Educação Sra. Isabel Ibias.

É com muita alegria que nós, desta Câmara Municipal, neste mês de abril, participamos das comemorações que a Cidade de Porto Alegre fez, no início deste ano, em homenagem aos dez anos do “Câmera 2”. Sem dúvida que, há dez anos, Porto Alegre não era a mesma, o mundo não era o mesmo. E vale sim uma reflexão sobre o tempo acompanhado pelo vídeo, pela tela da TV, por todos nós, nas nossas casas, nos nossos locais de trabalho e pelo olho mágico da câmera e do “Câmera 2”, nesses dez anos. E se Porto Alegre não era a mesma, se não tínhamos há dez anos, ainda, os ventos fortes da globalização, os ventos que marcam os nossos dias, é verdade que aquele tempo, também, era o tempo da redemocratização do País, e um tempo marcado pela afirmação do pluripartidarismo, pela afirmação da democracia. Em 1989, tivemos a retomada das eleições diretas para a Presidência da República, e vimos, pelo “Câmera 2”, os então candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Collor de Melo. Os diferentes candidatos ali apareceram com as suas propostas para o povo de Porto Alegre e para o povo gaúcho. Pelo “Câmera 2” tivemos a oportunidade de acompanhar, durante aquele governo, a imensa mobilização de uma comunidade pela ética na política, contra a corrupção, fazendo valer o seu desejo de uma sociedade mais justa e democrática. Acompanhamos um governo após outro, neste Estado, neste País, e nesta Cidade de Porto Alegre, que encanta a todos, três governos da Administração Popular; o Olívio  Dutra, Tarso Genro e Raul Pont. A partir de 1988 temos o “Câmera 2”, certamente  um olhar sobre a Cidade,  um olhar sobre o Estado do Rio Grande do Sul, um olhar crítico, mas, acima de tudo, democrático. Um olhar de quem não vê barreiras, fronteiras nas diferentes ideologias, mas que possibilita a cada espaço do Rio Grande ali se manifestar. Queremos destacar, nesta homenagem aos 10 anos do “Câmera 2”, a própria homenagem à população de Porto Alegre e ao povo do Rio Grande, um povo que reconhecemos, e é sabido entre todos os povos que compõe este País, como um povo politizado, um povo participante. Pelo “Câmera 2“ acompanhamos o desenvolvimento econômico, a política, a cultura, a nossa formação nesses últimos 10 anos, como um estado, como uma cidade na nossa região metropolitana por todo Estado. A afirmação de um programa como o “Câmera 2” tem o seu momento de homenagem, principalmente porque a época que vivemos hoje é uma época que, para o Estado, apresenta o caminho da privatização e fala de todo o enfrentamento, de todos os monopólios. Sem dúvida, que quando falamos em comunicação neste País, e ainda está presente a marca do monopólio na comunicação, quando a TV Guaíba, o Correio do Povo se mantêm por tantos e tantos anos em uma rede de TV, e através de um programa como o “Câmera 2”, como parte da sociedade gaúcha e brasileira, com caráter absolutamente inovador, sabemos que é possível fazer comunicação por fora da lógica do monopólio, justamente trabalhando comunicação e informação como direito de todo cidadão que precisa, na sociedade atual, - porque a informação é a marca da nossa sociedade - ter o outro lado da história para poder analisar. O “Câmera 2” se caracteriza pela possibilidade permanente de, todas as noites, vermos todos os lados da história, todas as possibilidades. É isso que queremos saudar, fundamentalmente, nesta tarde, na Câmara Municipal de Porto Alegre, quando reconhecemos que esta Casa, por unanimidade, aprovou a possibilidade desta homenagem a um Programa que combina  muito mais, em comunicação, com uma atuação educativa e consciente do que com a forma que, normalmente, se faz comunicação nesta época, que é a forma sensacionalista, da banalização do sofrimento e a forma de apresentar muito mais  aquilo que é o sofrimento do que as soluções e as propostas.  Sentimo-nos  honrados por participar deste momento, especialmente porque consideramos a informação como a pedra de toque da nossa época e como o direito fundamental para fornecer a cidadania e como aquilo que é fundamental para que, de fato, cada cidadão, homem ou mulher,  possa se ver dentro desta sociedade como parte dela, como sujeito da sua história, comprometido com a mudança naquilo que ele acredita que possa mudar e transformar dentro da sociedade. Não acreditamos no fim da história, pensamos que fazemos a história permanentemente. Os tempos deste final de milênio nos são apresentados como se o presente pudesse  ser mostrado como aquilo que se perpetuará para todo o sempre.  A mundialização da informação, as redes que fazem parte do nosso cotidiano, dentro das casas, através de um sistema internacional de informações, não podem nos dar em nenhuma medida aquilo que nos apresenta uma Rede como a Guaíba, como o Sistema Correio do Povo e um programa como o “Câmera 2”, que é a intimidade e o relacionamento direto com a nossa cultura e com a nossa produção. Nós creditamos ao “Câmera 2” o pioneirismo em programa de televisão local. Nós creditamos ao “Câmera 2” a possibilidade de nos enxergarmos dentro de uma tela de TV, de ver os nossos problemas como Cidade e as soluções para esse cotidiano sendo encontradas pelo debate fraterno, baseando-se em uma Rede e em um programa absolutamente democrático onde o contraditório sempre tem possibilidades. Quero dizer a vocês que nenhuma globalização, que nenhuma mundialização da informação, que todas as tecnologias que possam ser possíveis, que possam ser inventadas, e que fazem parte dessa revolução da nossa época poderá superar o contato direto, poderá superar o relacionamento direto com aquele cidadão que é o mesmo com o qual compartilhamos a vida da nossa Cidade. E aqui quero citar, destacadamente, quem está à frente deste programa nesses últimos 10 anos, que é o apresentador, o comunicador, a liderança deste programa, o Jornalista e Professor Clóvis Duarte. Quero saudar porque, enfim, sabemos que pela televisão também se faz educação. Nas nossas relações humanas, mediadas pela busca da solidariedade e da fraternidade, podemos, também, a partir de um programa de televisão como este, ver que a sociedade pode ser democrática, que a sociedade pode ser verdadeira e que existem espaços para que todos nós possamos nos ver como parte da história. Certamente que Porto Alegre não é a mesma de 10 anos atrás, certamente que o Estado do Rio Grande do Sul não é o mesmo de 10 anos atrás, que o mundo não é o mesmo de 10 anos atrás, mas nós sabemos que muito do bom que vivemos nos dias de hoje, também vivemos nesta Cidade porque há 10 anos convivemos com um programa como o “Câmera 2”. Recebam o nosso abraço carinhoso e fraterno, a nossa reflexão e o nosso desejo de que por muitos e muitos anos possamos ter esse relacionamento direto, essa abertura para a Câmara Municipal de Porto Alegre, essa possibilidade presente de que a vida da Cidade, a vida do Estado esteja dentro do sistema Correio do Povo/Guaíba e que esteja, especialmente, dentro do “Câmera 2”. Com inovação, com novas tecnologias, agora diretamente de Miami, diretamente de todos os lugares do mundo, mas sem perder esse vínculo que faz de Porto Alegre certamente, hoje, a Capital do Estado, uma metrópole, mas que também nos permite ser uma Cidade onde as pessoas se conhecem, onde as pessoas vivem o seu cotidiano, onde as pessoas buscam, sempre, soluções melhores para que se possa, como povo, sermos mais felizes. Muito obrigada ao Clóvis Duarte, à Magda, à Helena  Ribeiro, a todos que fazem, a todos os telespectadores também, que fazem do “Câmera 2” uma realidade. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Henrique Fontana falará pelas Bancadas do PT e do PPS.

 

O SR. HENRIQUE FONTANA: (Saúda os componentes da Mesa.) Senhoras e Senhores Vereadores; Senhores e Senhoras que acompanham esta justa homenagem aos dez anos do programa “Câmera 2”, debater e referenciar um programa de televisão com dez anos de existência em nossa Cidade é um momento ímpar para uma reflexão fundamental que a nossa sociedade enfrenta nos dias atuais, nesses tempos de alterações profundas nas relações humanas.

Eu diria - e muitas pessoas concordam com isso ao redor de todo o planeta - que, seguramente, o desafio democrático mais fundamental que a sociedade dos nossos dias enfrenta é, exatamente, o desafio da democratização da informação: o direito de cada cidadão deste planeta à chamada informação completa, ou seja, o espaço de informação que permite o combate, que permite o debate, que permite a troca de idéias divergentes numa sociedade que é criada de forma plural, com diferentes opiniões. E aqui está, seguramente, um dos pontos que merecem o pleno reconhecimento nosso desse espaço que é o programa “Câmera 2”, um programa sempre plural, um programa aberto e independente, um programa que simboliza, enfim, a capacidade que a sociedade tem, que nós temos e que o jornalismo tem de, efetivamente, produzir alternativas que não obedeçam os critérios da concentração dos mercados e os critérios da monopolização de diversas estruturas, que acontecem  na nossa sociedade hoje.

Certamente, se, há décadas atrás, as estruturas de poder e os caminhos da sociedade se decidiam em outras esferas, hoje, não há nenhuma dúvida de que a esfera da comunicação é a esfera mais fundamental para determinar os rumos que a nossa sociedade vai seguir. E ela só poderá encontrar rumos efetivamente democráticos quando nós tivermos mais e mais espaços em que os diferentes possam expressar suas opiniões, para que a sociedade, livremente, opte pelo caminho que quer seguir.

Eu recordo aqui - e peço uma ajuda, nesta recordação, ao Clóvis - de um programa do “Câmera 2” que ocorreu no ano passado - que para mim é só o símbolo dos tempos -, em que foi feito um debate, uma avaliação do SUS. Ali aparecia o depoimento de um jornalista colocando o que tinha encontrado ao fazer um transplante renal pelo Sistema Único de Saúde. Eu me senti orgulhoso de ver a forma pela qual aquele programa debateu a questão do SUS. É muito comum na nossa sociedade e, hoje, em muitos meios de comunicação, o maior drama que a população brasileira vive, que é a crise da nossa estrutura de saúde, ser tratado, ora de maneira a espetacularizar o sofrimento das pessoas, ora de maneira a simplificar as causas que geram as conseqüências que nós assistimos, com muita dureza, todos os dias, ora vendo a banalização do sofrimento dessas pessoas. Pois ali naquele programa - eu liguei, no dia seguinte, para o Clóvis para cumprimentá-lo por isso -, houve um efetivo reconhecimento do que o SUS faz por este País, com as suas dificuldades, com os seus limites, com as suas faltas. É importante um debate sério que componha todas as partes de um problema, que vá à raiz do problema e que informe a população, que, muitas vezes, tem uma idéia que permeia hoje a sociedade, concluindo a questão da análise da saúde, de que o problema do sistema de saúde brasileira seria o SUS. Não, o SUS é o caminho para a solução do problema da saúde pública brasileira. Os problemas que enfrentamos são os impedimentos para que o SUS efetivamente se implemente.

Encerro, cumprimentando, de maneira muito convicta e muito especial, a todos aqueles que, ao longo desses 10 anos, construíram esse espaço de comunicação dentro da TV Guaíba. E encerro dizendo, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, que nós, como muitas pessoas que compõem os espaços da nossa sociedade, vamos lutar, junto com vocês do programa “Câmera 2” e junto com a representação da nossa sociedade, para que mais e mais espaços se estabeleçam sobre os critérios da democracia no uso dos meios de comunicação, que são uma concessão pública e que devem, portanto, atender ao interesse público e ser controlados pela sociedade, que é a real oportunizadora desse espaço de comunicação e debate. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar a presença do Jornalista Armando Burd, que tem aberto grandes espaços para esta Casa divulgar o que aqui é realizado. É também um prazer termos a presença de todos aqueles que vieram prestigiar esta solenidade em homenagem aos dez anos do “Câmera 2”.

Queremos registrar a extensão da Mesa: Ex-Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Sr. Alceu Collares; Ex-Secretária Estadual de Educação, Sra. Neuza Canabarro; Diretor da Rede Visão de Rádio, Sr. Gilberto Lessa; representante da AGAFARMA - Associação Gaúcha de Farmácias e Drogarias Independentes, Sr. Henrique Fernando T. de Oliveira; Diretor Comercial da TV Pampa, Sr. Alexandre Jamante; Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre, Sr. José Elias Flores; representante da AVIPAL Agropecuária, Sr. Carlos S. Daudt; representante da ATP, Sra. Ledice Souza; Sr. Silvio Teitelbaum; Sra. Magda Beatriz; Sra. Suzana Velinho Englert; Sr. Alejandro Malo; Sr. Luís Fonseca; amigos da caravana gastronômica.

O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra. Fala pela Bancada do PDT.

 

O SR. ISAAC AINHORN: (Saúda os componentes da Mesa.) É fácil e difícil ao mesmo tempo participar desta homenagem. Acompanhei todo o processo da história, Governador Collares, do programa “Câmera 2”. O programa “Câmera 2”, pela sua originalidade, pelo seu estilo, constituiu-se num patrimônio da Cidade de Porto Alegre, pois ele balizou um perfil e um tipo de programação da televisão do Rio Grande do Sul. Podemos mesmo dizer que o “Câmera 2” foi pioneiro no estilo de programação dentro da televisão brasileira quando deu ênfase especial à programação local, ao enfoque dos nossos problemas municipais e estaduais, das nossas contradições, das nossas polêmicas no cotidiano das nossas vidas.

Por lá passam todos os problemas, e diria, Jornalista Clóvis Duarte, que o teu programa, com teu estilo peculiar de desenvolver um trabalho jornalístico, com a tua determinação, com a tua vontade de construir algo novo, pioneiro, renovando-se de forma permanente, é, verdadeiramente, um patrimônio da Cidade de Porto Alegre. Recordo-me que, há dez anos, quando sem experiência de uma participação cotidiana no vídeo da televisão, iniciamos, na TV Guaíba, os primeiros pilotos do programa “Câmera 2”. Lá estava o Deputado Estadual Jarbas Lima, o Políbio Braga e uma figura que participou do início, em janeiro de 1988, alguém que eu gostaria de registrar, neste momento, com ênfase especial: o saudoso, inesquecível comunicador, radialista e jornalista, José Antônio Lopes Daudt. O próximo 04 de junho marcará dez anos do seu assassinato, da sua perda lamentada.

Eu recém comecei o meu discurso e já sou censurado pela campainha presidencial que me adverte.

Neste momento, falo em nome de todos os meus companheiros de Bancada: Elói Guimarães, Pedro Ruas e Nereu D’Ávila, que me incumbiram, pela minha ligação, pelo meu envolvimento, por minha história no “Câmera 2”, de aqui estar presente manifestando a nossa posição, manifestando o respeito, sobretudo, a admiração pelo trabalho sério, determinado e responsável. E por ser responsável, sério e determinado, foi um trabalho vencedor, que inova sempre, no cotidiano, a sua maneira de apresentar; sempre procurando, criticamente, avaliar o que está acontecendo, não só em termos de pauta, mas também na forma como é feito. Agora mesmo, nós - o “Câmera 2” - e o Presidente da ARI conseguimos uma transmissão direta de Miami, via computador, também de forma pioneira.

Quero deixar o registro, em função da condição de dar ênfase aos temas locais, que  tem sido o perfil reconhecido por esta Casa, ao “Câmera 2” e ao Sistema TV Guaíba, Rádio Guaíba e Correio do Povo, e o reconhecimento, sobretudo, deste Legislativo Municipal, que tem tido, independente da coloração partidária, dos posicionamentos individuais em relação às mais diversas questões.

Quero lhe confessar,  Prefeito José Fortunati, que eu sempre transformei os meus espaços numa tribuna permanente contra o aumento do IPTU, mas também havia outro detalhe, havia o contraponto da posição divergente à minha. Inúmeros debates aconteciam, divergíamos e discutíamos de vez em quando. Não existia um debate organizado ou programado, mas, de repente, “fechava o pau”, porque as posições divergentes se encontravam ali na mesa. Vez por outra até me encontrei com o Prefeito Tarso Genro e acabava saindo um debate. Também acontecia isso com a nossa permanente periodista, Vera. Maria do Rosário, quando também acabavam saindo debates improvisados, pela natureza plural do programa. Eram debates sem organização que revelavam, sobretudo, o caráter plural e democrático do Programa, que permitia que tudo isso acontecesse.

Ganhou a Cidade de Porto Alegre e ganhou o Estado do Rio grande do Sul sobre todos os aspectos. Parabéns Clóvis! És um vencedor, a TV Guaíba é uma vencedora e tudo isso é orgulho para todos nós de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  Concedemos a palavra ao Ver. João Carlos Nedel, pela Bancada do PPB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente, Autoridades já nominadas, Senhoras e Senhores. Sucesso não é simples questão de sorte. Talvez até seja, para alguns. Mas não é regra válida para todos.

De modo muito claro quando se refere ao sucesso na mídia eletrônica, onde a tecnologia de ponta é fator relevante e muitas vezes é utilizada para suprir a carência de criatividade e de capacidade de inovar e renovar.

Pois, de todos os meios de comunicação, a televisão é o mais capaz de satisfazer as necessidades da sociedade, no que se refere à informação e ao lazer, eis que alia a agilidade do rádio à profundidade do jornal, a tudo acrescentando a imagem, que torna real e veraz o que por ela se assiste.

Como tal, é veículo exigente, porque exigente é seu público, para o qual estão disponíveis incontáveis opções, dotadas de todos os recursos, quer em cérebros, quer em tecnologia.

Essas considerações me permitem afirmar, com toda a segurança, que a palavra sucesso, em toda a sua abrangência, é o termo adequado para definir o resultado do programa “Câmera 2”, ao longo de seus 10 anos de apresentação.

Se há exemplo de sucesso em televisão, o “Câmera 2” deve ser tomado como tal.

Fazer televisão localmente, exclusivamente com prata da casa, competindo com os gigantes da produção e, mesmo assim, conquistar um espaço que agora é só seu, já é trabalho que requer, além de muito esforço, maior inteligência e talento.

Mas, manter-se, durante 10 anos, em posição de destaque, ao gosto sempre renovado e cada vez mais exigente do público telespectador, é obra de quem, como Clóvis Duarte, um dia, visto como visionário, soube, com descortino, perseverança e muito trabalho, criar um estilo jornalístico próprio, orientado para pessoas de seleto nível cultural, cansadas da rotina e da mesmice dos enlatados e das notícias sensacionalistas. Foi com bom humor, com variedade de temas, com criatividade, com faro jornalístico e com enorme senso de oportunidade que Clóvis Duarte construiu, nestes dez anos, um dos mais respeitados programas de televisão do Rio Grande do Sul, com produção local, de alta  credibilidade, bem ao gosto da gente culta de nossa terra.

É, por isso, Sr. Presidente, que desejo, em nome da Bancada do PPB, integrada também pelos ilustres Vereadores João Dib e Pedro Américo Leal, mais do que cumprimentar o Jornalista e Professor Clóvis Duarte pelo sucesso do seu programa, agradecer-lhe por tê-lo criado e conduzido, durante todos esses anos, com a qualidade com que o faz, trazendo uma inegável contribuição à boa formação da opinião pública.

Fazemos, todos, votos que o sucesso, sempre obtido pelo “Câmera 2”, em razão de seus próprios méritos, o acompanhe permanentemente, na prestação desse importante serviço à comunidade porto-alegrense e gaúcha.

 

 

Parabéns, Clóvis Duarte. E nosso desejo que Deus te proteja, inspire e conduza sempre, para que obtenhamos muito mais sucesso ainda nos anos que hão de vir. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra pelo PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A partir de 1970 o ensino gaúcho  superproduziu. Era uma safra jovem de valores muito acima da média. A necessidade de contrabalançar a decrescente performance do ensino médio foi preenchida por professores de voz marcante, de gestualística teatral e de grande comunicação com os jovens. Os cursinhos pré-vestibulares estavam em alta.

Certamente estão nesta fornada de grandes professores muitos conhecidos nossos da política, como o Professor José Alberto Fogaça, hoje Senador da República; o Professor Antonio Hohlfeldt, Presidente do PSDB do Rio Grande do Sul, Vereador em Porto Alegre e, ainda na carreira universitária, prestando a sua tese de doutorado ainda este ano; Prof. Juan Mosquera; Prof. Armando Burd, nosso competente cronista político; Prof. Régis ,tentando a política, mas continuando na atividade letiva; e um certo rapaz, oriundo de Pelotas, grande colorado, lendo e interpretando notícias e cuja única extravagância que se permitia era a “paradinha” do “Câmera 2”. Pois desta jogadinha ensaiada surgia o nome de um programa que marcou, desde o seu início, e vem marcando a noite dos porto-alegrenses. Propunha-se começar na contramão da História. Quando a moda era o enlatado, o programa pré-produzido e pré-gravado, o “tape”, eis que seu mentor passa para notícias locais, artistas locais, para o tempo de Porto Alegre, para as atrações, para as programações da semana, para entrevista com personalidades, para opiniões exóticas e inesperadas como ensinar as pessoas a apreciar um bom vinho. Ah! Ensinar as pessoas, Prof. Clóvis! O que poderíamos esperar de um “anchorman” que nasceu com este compromisso didático, com esta facilidade de comunicação? Pois a diversificação fugiu à monótona seqüência de um jornal. Há uma imensa qualidade no quadro literário apresentado. Na política ,certamente, o que há de melhor em matéria local e nacional. A tecnologia da informática, da fibra ótica e da televisão garantem a mais qualificada editoria internacional. Tem garantido lugar na programação a arte local, o prestígio das iniciativas, no início rotuladas de provincianas e, hoje, consagradas como o que há de melhor em matéria de diversão, de entretenimento, com um profundo compromisso com a cultura, com o didático, com a formação. Abrange uma faixa de espectadores que vai da infância à senescência, indiscriminadamente. Com Magda Beatriz; com Tânia Carvalho; com Felipe Garcia; com Luiz Coronel e suas poesias encantadoras; com Mauro Corte Real e o seu bom gosto; e o impecável comentário de Armando Burd, e  tantos outros elementos tão importantes adicionados ao “Câmera 2” têm o inconfundível sorriso do apresentador Clóvis Nogueira Duarte da Silva, o bom gosto a serviço da notícia, da informação e da formação. Tão importante é este segmento local que a sua geração, seu crescimento e consagração como audiência imperdível, nas gostosas noites do outono-inverno gaúcho,  deu origem a uma explosão de canais em nossos televisores, deu origem  até a  um canal de programação exclusiva local. E o “Câmera 2” segue, cada vez mais, importante, imponente, mundial. I la nave vá... Ninguém a segura! Longa vida a uma das características inconfundíveis da Cidade de Porto Alegre, da nossa Cidade, pois “Câmera 2” é Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR.  PRESIDENTE: O Ver. Fernando Záchia está com a palavra pelo PMDB.

 

O SR. FERNANDO ZÁCHIA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Já foram ditas, pelos Vereadores que me antecederam, todas as qualidades do sucesso do “Câmera 2”, nesses 10 anos. Algumas relacionadas com a  vida do gaúcho, que tem a qualidade de manter as tradições e, por isso, sempre se identifica com o “Câmera 2”, porque tratou sempre de coisas locais: fatos relacionados com economia, fatos relacionados com política. Essas qualidades acopladas, Clóvis Duarte, para mim, são as mais importantes e fundamentais desse sucesso. Nós, que sempre clamamos que, na nossa relação com a sociedade,  haja, cada vez mais, ética na política, encontramos no seu Programa, com muita satisfação e carinho e, por isso, a razão desse sucesso maior, a ética no jornalismo. Por esses lindos 10 anos e por todos os  jornalistas que lá passaram e que hoje estão nos diversos jornais, nas televisões e rádios de Porto Alegre, sem exceção, todos passaram por lá. Mas sempre a linha, a linha da produção, a linha do programa e a linha da TV Guaíba, D. Helena, foi pela manutenção da ética no jornalismo. Isso, para nós, que tanto clamamos pela ética na política, Gov. Collares, traz extrema satisfação, por isso entendemos o sucesso desses 10 anos. E mantendo essa linha, mantendo a ética no jornalismo, temos a certeza de que Porto Alegre será brindada com mais anos, mais 10 anos, quem sabe, desse sucesso. Parabéns e cumprimentos! Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Hélio Corbellini está com a palavra para falar pelo PSB.

 

O SR. HÉLIO CORBELLINI: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Michel Piccoli, ator francês, num debate sobre funções e caminhos da televisão na Europa, afirmou que a televisão é uma autêntica ditadura do pensamento uniforme. Mas quando discutimos tudo o que ouvimos, podemos, com certeza, dizer que aqui em Porto Alegre, pelo menos num local, isso não acontece: no “Câmera 2”; porque é um programa alternativo, porque é um programa que trata das questões locais, que aproxima o cidadão e faz com que ele aumente a sua paixão pela Cidade, discutindo seus problemas. E não é sem razão isso. Não só devemos reverenciar quem conduz esse programa, mas também buscar as razões e a origem de por que acontece isso. Talvez encontremos as razões lá no final dos anos 60, quando o “Professor Parafuso”, Clóvis Duarte, junto com  Fogaça, junto com o Prof. Felizardo, começaram a discutir cultura através daqueles programas de tevê, que, pode-se dizer, foram os precursores deste programa, como também o “Porto Visão”, com as mesmas figuras, e que geraram nomes tão importantes para a sociedade. Foram os dois marcos para, daí, desembocar no programa “Câmera 2”, e hoje estamos aqui, comemorando dez anos.

A televisão, esse instrumento tão generoso, mas tão perverso, às vezes; a televisão, esse veículo tão educador, mas tão deseducador, às vezes! E nós, agora, estamos passando, Prof. Clóvis, por um outro debate: se devemos ou não fazer controle de qualidade nos programas. Se controle de qualidade é censura, não é por nada que o Congresso Nacional luta tentando instalar uma Comissão para discutir essas questões com a sociedade, porque a grande pergunta - e sempre existem acalorados e apaixonados debates - é: “Afinal, a televisão é neutra ou não é neutra?” Eu acho que a televisão não é neutra. E eu me permito ler um parágrafo do Jornalista Gilberto de Mello, na NET, que diz o seguinte: “Por que a televisão não discursa e não argumenta? Ela invade, abruptamente, o espaço mental sem pedir licença a ninguém, e o manipula à vontade. Ela também não omite a informação visual, como o rádio, e nem dissimula o seu argumento, como o cinema. A tevê não discursa; ela explode, atordoa a nossa consciência como uma bomba. Não omite e nem dissimula nada; sua linguagem é explícita, direta e estrondosa. Não está para sutilezas nem disfarces.” Isso é a nossa televisão no seu cotidiano; então, ela não é neutra. Mas o debate que começa agora  entre  o que é nocivo e o que não é nocivo e o que é padrão de qualidade, nós podemos ficar absolutamente tranqüilos em Porto Alegre, porque pelo menos temos um programa  que, como já foi dito aqui, é referência de padrão de qualidade e que todos nós, políticos, pessoas de informação, pessoas que multiplicam idéias, devemo-nos perguntar: por que ele continua pujante aos 10 anos e fica muito mais pujante em anos eleitorais? Porque aqueles que reproduzem, neste ano aumentam sempre a audiência do “Canal 2” - o Professor sabe disso. Não é porque vai o Fulano, o Sicrano, mas porque ele é absolutamente democrático, e lá entram todos os partidos, todos os credos, todas as questões de sexo. Tudo entra com a mesma imparcialidade. Esse padrão de qualidade, esse padrão de TV alternativa, Professor Clóvis, educa, e a sua não-neutralidade é a favor do desenvolvimento da sociedade justa. Meus parabéns! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra, em nome da Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL:  Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Eu dizia ao meu amigo Lauro Meira, há pouco: o que eu digo, depois de tudo o que já foi dito em homenagem ao Clóvis?

Em verdade, o oitavo orador de uma solenidade repleta de manifestações talentosas tem, a um só tempo, uma dificuldade muito grande e uma facilidade compensatória.

Eu quero, evidentemente que usando a parte mais suave da minha dificuldade momentânea, dizer que subscrevo integralmente tudo o que foi até aqui colocado e que procurarei aduzir, Dr. Collares, alguma coisa de muito pessoal. Aliás. quero confessar que tenho uma certa dificuldade de comparecer em solenidades onde se fazem saudações a pessoas vivas. No Dia do Jornalista, por exemplo, era capaz de discorrer amplamente sobre a figura do Dr. Breno Caldas, do Dr. Maurício Sirotsky, de inúmeros jornalistas do Rio Grande do Sul ou do Brasil que escreveram, no seu tempo, verdadeiras sagas na história da imprensa brasileira. Não obstante, estou tratando de uma pessoa que está bem viva, positiva e presente entre nós, ingressando em nossa casas há dez anos com seu programa “Câmera 2”.

E o mais grave de tudo isso, e o maior complicador, reside no fato de que sou amigo pessoal do homenageado. E quando se é amigo das pessoas, tendemos a ficar comprometidos nas opiniões. Mas eu raciocinei e vi o seguinte: o caráter independente do “Câmera 2” é tão forte que permite que eu, sendo amigo do Clóvis e dos demais integrantes, não seja uma pessoa que faça parte permanente da sua programação; no caráter seletivo sou convidado, vez que outra, a comparecer no seu programa, porque não é por que o jornalista Clóvis Duarte seja meu amigo pessoal que ele vai comprometer sua independência, a sua forma seletiva de escolher seus convidados. Há cerca de dois anos que não sou distinguido com um convite para comparecer neste programa, o que me deixa com a tranqüilidade de dizer que não estou mandando gratuitamente quem queira, evidentemente, agradar determinadas pessoas. Estou dizendo que meu amigo Clóvis, nosso homenageado de hoje, consegue, nestes dez anos, como foi muito bem afirmado, se impor numa área de grande dificuldade, porque sabemos que fazer uma programa de televisão por tanto tempo, numa estrutura de comunicações em que predominam as grandes redes, com grande capacidade tecnológica, com elementos quantitativos da sua produção, que até em termos econômico-financeiros giram em torno de milhões, é uma dificuldade, e alguém deve ser muito talentoso para enfrentar essa dificuldade. Vejo aqui o meu amigo José Silvas, colega do Clóvis na TV Guaíba, ele no horário do meio-dia, e a ele eu dizia, há poucos dias, que compreendo o quanto é difícil para alguém fazer esse tipo de jornalismo independente sem se subjugar a laços do coração, a laços do interesse, senão à preocupação e ao compromisso de fazer um programa informativo bem dirigido e, sobretudo, comprometido com os objetivos com os quais ele foi imaginado. Então, perco qualquer constrangimento para dizer que não subscrevo formalmente as declarações e pronunciamentos dos meus Colegas como um mero gesto protocolar. Sinto este bem-querer pelo ”Câmera 2”, sinto este bem-querer pelo tipo de programação que ele representa e sinto, sobretudo, que esta saga de independência, esta moderna forma de fazer jornalismo, tão difícil quanto foi o daqueles outros que citei em seus primórdios, faz, do Clóvis Duarte, da sua equipe de trabalho  e do seu programa, credor das homenagens que hoje recebe da Cidade. Queira Deus que no próximo decênio, quando certamente outros estarão aqui nesta Casa, possa, o Jornalista Clóvis Duarte, com sua equipe, continuar a merecer os mesmos elogios, os mesmos cumprimentos e, sobretudo, o mesmo reconhecimento que hoje a Cidade de Porto Alegre, pelo seu Legislativo, lhe tributa.

Meus cumprimentos, Clóvis, segue em frente, porque sei que o teu espírito de independência é tão alto e tão característico da tua figura que tu não titubearás em continuar, na virada do século, sendo o grande comunicador social que o Rio Grande conhece e aplaude. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador).

 

O SR. PRESIDENTE: Depois desta homenagem que estamos prestando ao “Câmera 2”, será servido um coquetel, no Salão Nobre do Plenarinho, para o qual estão todos convidados.

A Vera. Sônia Santos está com a palavra.

 

A SRA. SÔNIA SANTOS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os demais componentes da Mesa.)  A vida é feita de momentos e, hoje, vivemos momentos de muita alegria, quando estamos homenageando o programa “Câmera 2”, pelos seus dez anos, através da proposição da Vera. Maria do Rosário, que teve essa sensibilidade.

São dez anos de muita alegria, de muita informação, de muita inovação, de muito trabalho e de muita luta. Não temos idéia e, com certeza, Clóvis Duarte não tinha idéia que este Programa não só entraria nas casas das pessoas, como na vida das pessoas. Nunca poderemos mensurar o que as informações trabalhadas, trazidas de forma informal através de entrevistas, através das pessoas que passaram ao longo desses dez anos pelo programa, como a minha Amiga Magda, como Armando Burd, como tantos outros que estão lá contribuindo, são importantes para o cotidiano de todos nós. Este programa fez uma coisa inovadora, trouxe as pessoas para dentro da televisão, trouxe o jornalista, trouxe o médico, trouxe o político, trouxe o engenheiro e trouxe luz sobre esta Cidade, abordando as questões locais; trouxe luz sobre o nosso Estado. E, hoje, quem quer que passe por esta Capital, passa também pela mesa de Clóvis Duarte no “Câmera 2”.

Nós, nesta Casa, mais do que  qualquer outra, temos que prestar este tributo e esta homenagem, porque somos representantes do povo de Porto Alegre. E como representantes, hoje, estamos expressando o desejo que, com certeza, todos os telespectadores, ao longo desses anos, os que tiveram as suas vidas tocadas, através desse trabalho gostariam de fazer. Mas como é um momento de alegria, e todos aqui estão sentindo uma alegria muito grande, tenho certeza de que há uma pessoa que sente uma alegria muito maior. É o momento de festa. Mas como estava Clóvis Duarte há dez anos? Quais eram as suas certezas, quantas dúvidas ele tinha na sua mente e no seu coração quanto à possibilidade de que esse Programa viesse a dar certo. Mas ele foi ousado, teve coragem e acreditou no sonho, no desejo mais forte que falava ao seu coração. Ele fez, ele realizou, e hoje todos nós estamos aqui.

Nós da Câmara de Vereadores queremos parabenizar a todos vocês que fazem desse Programa um sucesso. Queremos agradecer ao Jornalista Clóvis Duarte pela sua coragem, pela sua ousadia e pela sua vida, pois sem ela nenhum de nós estaria aqui, nesta tarde, prestando esta homenagem. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos também registrar a presença dos Vereadores Juarez Pinheiro, Clovis Ilgenfritz e Elói Guimarães.

Depois de ouvirmos todas as Bancadas, estamos no momento maior desta homenagem, que é o momento da manifestação do homenageado, amigo de todos nós e da Cidade, pois ele, com seu modo muito peculiar de apresentar o seu Programa, fez  uma verdadeira revolução na televisão. Posso lembrar, ainda, ouvindo os colegas Vereadores, que há 10 anos  muitos foram os que tentaram colocar programas parecidos na televisão, mas nunca houve grande êxito, e as pessoas quando começavam seus programas já tinham certeza de que não conseguiriam enfrentar os “gigantes de audiência”, da época, no caso a Rede Globo, ou aqueles ligados a ela. O Clóvis Duarte, quando começou, teve no seu carisma o argumento fundamental para que o seu programa pudesse ter o êxito que sempre teve.

Como Presidente desta Casa nós queremos cumprimentar o Jornalista Clóvis Duarte e agradecer por todos os espaços que ele tem aberto para todos nós, que somos políticos, que militamos neste campo da política, independente da ideologia que nós professamos.

Concedemos, com muita honra, a palavra ao nosso Homenageado, Jornalista Clóvis Duarte.

 

O SR. CLÓVIS DUARTE: Exmo. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre Ver. Luiz Braz; Exmo. Vice-Prefeito de Porto Alegre, Dr. José Fortunati; Dra. Helena Ribeiro Soares, Diretora da Televisão Guaíba e, aqui, representando todo o complexo de comunicação Guaíba/Correio do Povo; Presidente da Associação Rio-grandense de Imprensa, Sr. Ercy Torma; Dr. Wremyr Scliar, que, aqui, representa o Tribunal de Contas do Estado; Cel. Irani Siqueira, que representa o Comando Militar do Sul; Capitão Marco Antônio Agostini, que representa o Comando Geral da Brigada Militar; Professora Isabel Ibias, representando a Secretaria Estadual de Educação.

Quero, inicialmente, agradecer à Vera. Maria do Rosário a quem coube a iniciativa  desta homenagem ao “Câmera 2”, à TV Guaíba, e a todos aqueles Vereadores que, representando todas a Bancadas desta Casa, tiveram a bondade de escolher este dia para homenagear este Programa, que aqui represento.

Para um professor, - e eu jamais deixei de ser um professor, e vou, tenho certeza absoluta, continuar sendo - o “Câmera 2” foi um desafio como, antes, foram outras iniciativas que me tiraram da sala de aula, do dia - a - dia, mas não me tiraram o espírito e a responsabilidade do professor, que é orientar, ensinar, fazer com que as pessoas aprendam e conheçam as coisas. Então, em determinado momento da minha vida, fui mudando, não deixando de fazer aquilo a que me propus, mas simplesmente mudando a maneira de como fazer - passar da sala de aula a equipamentos que permitiam me comunicar com mais pessoas, sem fazer nada além do que fazia, ou seja, fazer com que essas pessoas, - até então alunos, jovens, com uma oportunidade rara neste País de estar dentro da sala de aula - que tivessem um aparelho na sua casa, que captasse a voz ou, fundamentalmente, a imagem, também começassem aprender a pensar, porque é esse o item fundamental que nos diferencia. Este é o item mais importante da nossa espécie. Desde o início, em tudo aquilo que fiz nos veículos de comunicação, sempre tive esse caminho: fazer pensar. Tenho certeza de que o analfabeto, o que não consegue ler e que escuta e não entende, não interpreta o que ouve, continua analfabeto, sendo comandado, sendo dirigido pelas pessoas. O semi-analfabeto é aquele que escuta um pouco mais, já lê, mas só vê um lado da história, só lê e ouve uma tendência e, quanto aos veículos de comunicação, ouve  veículos com o mesmo comando, ou só lê e vê veículos com o mesmo comando. Esse é um semi-analfabeto, ele também vai continuar sendo mandado, ele também não sabe mandar. E quero voltar, então, a duas pessoas que foram muito importantes para que eu, que escolhi ser professor, pudesse ter esse rumo de ampliar a capacidade de comunicação, no caso, com o nosso Estado. E casualmente, essas duas pessoas têm nomes que ligam à família, e a família é coisa importantíssima na sociedade que, sem a qual, não se mantém. Um é Sobrinho e o outro é Júnior. Um, lamentavelmente, já nos deixou; outro vejo aqui, com satisfação. Estou falando de Maurício Sobrinho e de Salimen Júnior, que está aqui. Foram pessoas que me desafiaram, primeiramente Maurício Sobrinho ao convocar a mim, professor de cursinho, dizendo o seguinte: “Vem para cá, tem uma televisão ali no morro - naquele estilo que ele gostava de falar - vai ali e pega. Quem sabe tu vais lá e faz um programa desses teus de cursinho, faz para nós. “Foi a primeira vez que eu entrei, na época, na TV Gaúcha, num estúdio, sem saber nada, porque eu não tinha nenhuma formação dessa área, levando professores, que estavam comigo, a ter essa possibilidade de comunicação de massa, a começar a falar, rigorosamente aquilo que nós falávamos para um grupo privilegiado que tinha o poder de chegar numa sala de aula. E lá fizemos o programa, logo a seguir, começava o Jornal do almoço, único programa no Rio Grande do Sul, que consegue ser mais velho que o Câmara 2. Ali, no dia-a-dia, mesclando a sala de aula com o estúdio, aprendi, e outros colegas, que estavam juntos, que aquele veículo era  muito poderoso, e que nós, que tínhamos esse privilégio de poder fazer as pessoas pensar, tínhamos, na mão, esse veículo que legava e dava o poder de fazer as pessoas pensar. Logo em seguida, passaram-se dois anos, foram dois mais dois, na verdade, 1970, 1972 o Jornal do almoço, 1974, Salimen Júnior comandava, na época, a TV Difusora, era líder de audiência no horário da noite, transmitia a cores, foi a primeira, no Brasil, a fazer isso, mas não tinha programa ao meio dia, e ele me convidou. “Vem para cá, está aqui o programa do meio dia, faz um programa aqui.” Quase as mesmas palavra que Maurício Sobrinho havia colocado, quatro anos antes, para trabalhar na TV Gaúcha que não estava ligada a TV Globo, na época, 1970. Mais uma vez aceitei o desafio. “O programa está aqui, a TV Difusora não pode fazer o programa, mas quem sabe tu pegas e faz.” Era um desafio incrível, penso que cada um de vocês pode imaginar isso, mas eu levei as duas coisas que aprendi muito, ou seja, tenho de continuar como professor e estar cercado dos melhores profissionais, porque esse foi um fato importantíssimo que sempre caracterizou o “IPV”. Sempre fui em busca dos melhores profissionais e quando eles não estavam comigo, eu ia atrás deles, fazia propostas incríveis e eles iam para o “IPV”. Não admitia perder nenhum profissional que eu considerava importante ou melhor, nenhum professor podia sair do “IPV”; se era bom, tinha de estar no “IPV”. Por exemplo: Fogaça, Amilcar, Prof. Felizardo, Enéas de Souza, Ruy Carlos Ostermann, Carrion Júnior, etc. Cito só alguns nomes que estão aí, que por outras opções, depois, têm seu nome mais marcado popularmente. E quando Salimen Júnior me convidou, pensei que deveria fazer a mesma coisa, se eu vou para esse local, terei de fazer a mesma coisa, não vou fazer o programa sozinho e fiz o PORTOVISÃO. Fui lá no Jornal do Almoço e fiz uma limpa, chamando Tânia Carvalho, Jockymann, Cascalho, Renato Pereira e José Antônio Daudt. E aí um desafio maior, Chico Carlos, saudoso, que comandava a programação da TV Difusora disse: - “Olha há uma pessoa aí que, parece, pode vir para cá”. Aí perguntei: Quem? Nós já pegamos todos que poderiam vir, o fundamental veio  para o PORTOVISÃO. Então ele respondeu. - “Tem Geraldo José de Almeida”. Eu não poderia imaginar, o homem que havia narrado a Copa de 1970! 0 que é que é isso minha  gente”?! O homem que havia brigado com a Rede Globo, porque o Brasil havia perdido em 1974, e ele não prestava mais, ele era o azar, naquele mundo terrível que a comunicação de massa  faz destruir profissionais, rapidamente, temos vários exemplos aí. Eu mais louco ainda, fui buscar o Geraldo José de Almeida e ele estava lá. Uma semana depois de inaugurado o PORTOVISÃO, Geraldo José de Almeida, o mais famoso  nome de narração esportiva do Brasil, veio para cá e estava no PORTOVISÃO. Foi um sucesso! Do dia 10 de outubro a dezembro daquele ano, o PORTOVISÃO bateu todos os recordes de audiência, e, felizmente, também de veiculação. Lembro que, naquela época, levamos uma bela multa do DENTEL, porque só se podia fazer 15 minutos de propaganda por hora, e era tão intensa a procura que nós extrapolamos. Foi um sucesso tão grande que, lamentavelmente, a direção da TV Difusora, que, na época, estava com os padres capuchinhos, “cresceu o olho” e pensou que podia fazer o programa. Rompeu o contrato que tinha e assumiu o PORTOVISÃO. Até hoje  o nome da TV Bandeirantes é Rádio e TV PORTOVISÃO Ltda. Até isso foi tirado do Programa. Mas aquele espírito não morreu, e, de novo, Maurício me leva para, já formando a RBS, continuar reformulando e fazendo coisas diferentes. Aí eu vou lá fora, vejo os programas matinais que estavam começando a fazer sucesso nos Estados Unidos - o “Good Morning América”, o “Toda”, alguns programas que passam agora, aqui, com a TV à cabo. Vi um novo estilo. Na verdade não era um novo estilo, porque era o estilo que tínhamos feito no PORTOVISÃO em 1974, e muitos brincavam assim - às vezes não havia nenhum convidado, não era fácil -: “Io, Clóvis! Oi, Fogaça!” A Tânia Carvalho gostava muito de brincar conosco sobre isso, e tínhamos que conduzir o programa. Lá fora eu vi que a programação local é a chave; a informalidade e a maneira como os jornalistas transmitiam o que sabiam fazia com que as pessoas da comunidade pensassem, e eu tive a certeza absoluta, em 1978, de que tinha que seguir aquele rumo. Naquele mesmo ano, momento em que muitos dos meus amigos disseram-me que eu era louco, eu vendi a minha parte no IPV, porque eu não acreditava que eu pudesse me dividir. Eu não podia, eu tinha que me dedicar. Como eu era dedicado, mergulhado no ensino, não podia chegar atrasado numa aula - a Professora Neuza Canabarro sabe bem disso -, não podia sair quando bate a campainha, porque a aula termina quando não há mais nenhum aluno para fazer perguntas. Ao mesmo tempo, a televisão também exige horários. Eu decidi vender o IPV, o que era um negócio maluco, porque estava no auge, e fui-me dedicar exclusivamente a fazer aquilo de que gostava. Agora eu tinha esse caminho que era o de ampliar a comunicação. Fiz isso com muita satisfação, por muitos anos, lá no Jornal do Almoço. Na época, ele tinha mais liberdade, ele era local, ele tinha duas horas, os jornalistas tinham oportunidade de falar, de comentar e de discutir entre aqueles que participavam. Lamentavelmente, por aquela pressão que cada vez mais as redes nacionais exercem sobre as suas afilhadas locais, eu fui-me sentindo prensado e diminuído na minha capacidade lá dentro. E, mais uma vez, eu tinha que andar e andar naquilo que eu imaginava ser o caminho mais certo para atingir mais gente, mais gente que precisava dessa possibilidade de ouvir, ver as coisas e pesar, que era o horário da noite. O horário do meio-dia era um horário elitizado. Hoje já é cada vez mais difícil, porque todas as pessoas têm que estar trabalhando: o pai, a mãe, a tia, trabalhando para sobreviver. E aí eu recebi um convite da TV Guaíba, que então iniciava uma nova etapa. Falavam coisas incríveis: “vai fechar”; “vai terminar”; “tem empresário aí que não sabe nada, comprou só para vender mais adiante”. E foi-me oferecido fazer o programa lá. Durante quase um ano, eu fiz ainda o “Comunicação”, que era o que me puxava. Eu tinha a imagem que me foi lembrada aqui pelo Ver. Sebenelo: “Câmera Dois”. Eu tinha desenvolvido essa marca por causa da tecnologia da época: quando eu queria mudar de câmera, eu tinha que chamar “Câmera 2”. O saudoso Carlos Nobre sempre gozava: “Não, tem que chamar Câmera Doze”, em homenagem ao canal. Mas fechava tudo, e eu fui para lá. Poderia ter escolhido o horário que eu quisesse, a TV Guaíba estava livre. Eu podia botar o horário às 7h, às 8h, à meia-noite, onde eu quisesse. Mas eu sabia que para fazer um combate com um veículo muito forte - em qualquer guerra é assim -,  tinha que ser onde estava o horário mais fraco. Eu sabia por próprias pesquisas dentro da “Globo” que aquele horário das dez e meia era o horário em que a família já estava em casa, reunida. E entre tantas coisas alegres que tenho do “Câmera 2”, eu sei que talvez seja um dos poucos programas, se não o único, em que o homem e a mulher assistem juntos, muitas vezes até deitados na cama. Isso é muito importante: pode-se falar enquanto assiste o programa. Ao contrário do que se acusa a televisão - e muitas vezes ela o faz -, de emudecer as pessoas, o “Câmera 2” - e esse é o princípio do professor Clóvis - faz as pessoas falarem. O aluno, na sala de aula, tinha que falar, tinha que questionar. Isso continua sendo a regra do, agora, “Câmera 2”.

Durante todos esses anos, eu fiz questão de lembrar - como foi dito aqui - que nada existe ao acaso, e o “Câmera 2” não existiu ao acaso; houve muitas coisas que levaram o “Câmera 2”, que persistem agora e que vão continuar, tenho certeza.

Quando eu fui para lá, tive a preocupação de me juntar a profissionais belíssimos que, daqui a pouco, vocês vão assistir num curto vídeo de 3 minutos, e mais uns incríveis, lá do nosso início, e alguns saudosos que não estão mais vivos conosco, e outros que passaram por lá e de quem eu tenho o privilégio de continuar sendo amigo. Todos são meus amigos. Todos que começaram e que hoje são profissionais, dos mais diferentes veículos de comunicação aqui do Estado, passaram pelo “Câmera 2”. Alguns aprenderam a fazer televisão lá, e hoje se constituem em expoentes da sua área, quer seja na política, na área de cultura, de variedades. Outros vieram, tão bons quanto aqueles, porque eu não sei trabalhar sozinho. Jamais tive a pretensão, em nenhum dos programas que fiz, de colocar meu nome. É muito fácil colocar o nome. Normalmente os programas de televisão e de rádio têm o nome de quem o apresenta. Eu, por uma razão de princípio, jamais tive meu nome no programa, porque sempre acreditei e continuarei acreditando que o trabalho tem que ser em equipe. E se essa equipe tiver uma linha ela vai ter sucesso. O “Câmera 2” é isso: ele continua tendo a mesma linha, isto é, o compromisso com a comunidade, o compromisso com aquilo que nós precisamos para andar e para crescermos como pessoas dentro da família, dentro da comunidade e da sociedade.

Hoje, entramos nessa área tecnológica em que, mais uma vez, o “Câmara 2” inova e traz para a televisão aquilo que, para muita gente, é um espanto.  Por exemplo, a minha mãe não consegue entender muito bem como aquela imagem está entrando ali. Mas eu fico pensando que as primeiras pessoas que fizeram cinema também devem ter enfrentado isso, porque também a técnica não era boa. Salimem Júnior, quando fazia aqueles programas de auditório, tinha muitas dificuldades. Maurício Sobrinho, quando subia num poste para colocar  um alto-falante,  muitas pessoas riam dele.

Então, nós estamos nesse desafio e nessa tecnologia que está aí, que vai-nos dominar. Não, não nos vai dominar, nós é que vamos dominá-la. Nós trazemos as notícias do mundo hoje, antecipando tudo aquilo que acontece no outro dia. Antes esses canais que tinham muito dinheiro tinham o privilégio de ter satélites e davam as notícias  do jeito que eles queriam. O “Câmara 2”, agora, pode fazer a mesma coisa, só que, desculpem-me a modéstia, ele faz melhor, porque ele traduz  para as pessoas. Quando, ontem, nós dávamos a notícia direto dos Estados Unidos, que o maior negócio do mundo  havia sido fechado pela “Citycorp”, a mesma notícia tinha sido dada no Jornal Nacional, só que levou um minuto, mostrou uma imagem bonita do Presidente do “Citycorp” assinando, mas não explicou nada. E o “Câmara 2” deu a notícia, só que ele explicou. Isso é o que está acontecendo e o que vai acontecer se não defendermos nossas empresas e a nossa Cidade, porque vão agir sabem onde? Em cem países do mundo, e nós estamos dentro desses. Então, passamos, e se nem todos podem entender, alguns entendem isso. Ontem à noite, mostramos a imagem do tempo no satélite, e eu disse: “Vejam aqui no colorido: está aqui no Paraguai, está aqui no Oeste Paranaense”. Eu estava ali olhando, e quem estava assistindo ao programa pôde ver que, dali a duas ou três horas, um temporal violentíssimo que todos puderem ver, pois estava ali na tela, derrubaria sete ou oito torres distribuidoras da Itaipu. Estamos correndo o risco da falta de luz, porque metade das turbinas de Itaipu estão paradas, e, conseqüentemente, nós, que estamos na ponta, vamos sofrer esse risco, porque estaremos recebendo menos energia nos próximos dias.

Citei dois exemplos concretos para dizer que a importância da tecnologia não vai liquidar o “Câmera 2”, não vai liquidar programas que tenham compromisso com a comunidade se pudermos utilizar a tecnologia que o “Câmera 2” inovou e que está conduzindo sempre com jornalistas, sempre com a comunidade, da qual não nos vamos afastar.

Esta homenagem que recebo, hoje, em nome de todos os companheiros que estiveram comigo, alguns aqui citados, outros não, porque foram muitos, dezenas e dezenas, é uma homenagem que me toca muito, porque é da minha Cidade. Nasci aqui em Porto Alegre. Já estive aqui para receber duas outras homenagens que recebi da minha Cidade: o Título de Cidadão Emérito e a Medalha. Não menosprezando outros títulos que já recebi, esses são da minha Cidade, e a Cidade da gente é aquilo que temos que plantar, porque aqui estão nossos filhos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Quando eu estava anunciando o nosso Homenageado, mencionava o Jornalista Clóvis Duarte, ele se lembrou muito bem e, realmente, foi uma falha, afinal de contas estamos acostumados a ver o Clóvis Duarte na TV todos os dias, e isso, na verdade, dá-nos um referencial do jornalista. Mas é claro que ele fez muito bem e lembrou-nos que foi  professor, e nos seus programas, ele faz questão de fazer com que esse seu espírito de professor possa predominar.

Anunciamos que, no final desta Sessão Solene, teremos um coquetel que será servido no Salão  Nobre deste Plenarinho. E ,tão logo, termine esta Sessão Solene, teremos outra, quando estaremos homenageando também uma outra figura muito ilustre, que é um dos maiores compositores brasileiros, João Bosco, que já se encontra na Casa.

Convidamos para que todos de pé possamos ouvir o Hino Rio-grandense.

 

(Procede-se à execução do Hino Rio-grandense.)

 

(É procedida a apresentação do “ clip” do Programa “Câmera 2”.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos agradecer a presença de todos e queremos, mais uma vez, registrar a honra desta Casa em ter prestado esta homenagem ao Professor Clóvis Duarte.

Convidamos a todos para  que, agora, participem da parte festiva da homenagem,  um coquetel no saguão do nosso Plenário.

Logo a seguir, os Senhores poderão participar da entrega do Prêmio Lupicínio Rodrigues a um dos maiores compositores brasileiros, João Bosco, que já está presente na nossa Casa.

Encerramos os trabalhos da presente Sessão Solene, agradecendo a presença de todos. Muito obrigado.

 

(Encerra-se a Sessão  às 19h22min.)

 

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